terça-feira, 27 de setembro de 2011


Ite Missa Est
n.o 5
setembro de 2011

LITURGIA E PERSONALIDADE (II)
Liturgia e a finalidade do homem

O sentido de toda a criação é ser reflexo e glorificação de Deus, o infinitamente poderoso e santo. Toda a criação – montanhas, mar, planta, animal, e também obras de arte do homem, épocas de cultura, uma sociedade e a própria pessoa espiritual – tudo existe para refletir e glorificar a Deus, realizando plenamente a idéia inerente a cada qual e todo o seu valor.
Pois todos os valores, a bondade, a beleza, o fascinante da vida, o esplendor sublime da verdade, a dignidade de tudo que existe, em contrário ao nada, todos os valores são um raio da essência de Deus que é todo santidade. Tudo quanto é bom e belo é um reflexo da Luz Eterna.

Mas não é só o orvalho de cima, é também o incenso que de baixo sobe a Deus: aos valores é próprio um gesto objetivo de glorificação de Deus. Tudo quanto existe louva a Deus pelo seu valor, pela sua preciosidade e beleza. A natureza louva a Deus pela sua beleza; ela fala ao homem de Deus e o inflama para o Seu louvor; mas também da sua própria beleza sobe um louvor silencioso a Deus; e do mesmo modo, de toda obra de arte, de toda perfeita sociedade, de toda verdade e de todo comportamento moralmente bom.
Sendo não somente vestígio, mas imagem de Deus, o homem pode e deve responder com consciência à glória infinita de Deus: na alegria do positivo, no entusiasmo, na veneração e no amor, e, sobretudo, sendo Deus a soma, o centro e a fonte de todos os valores, ele há de amá-Lo adorando-O, e amando-O adorá-Lo.

A adoração amorosa é uma nova dimensão de glorificação de Deus. A dignidade suprema do homem consiste justamente nisto que ele é capaz de adorar e glorificar a Deus conscientemente.
Os valores pessoais mais importantes não acontecem por si no homem. Uma pessoa jamais pode ser boa, se ela não quer o bem, se ela não se alegra com o bem, se não ama o bem.
Uma pessoa não pode tornar-se santa, sem adorar Deus, sem amar Cristo, sem dobrar o joelho diante dEle.
Receber os raios de luz do mundo dos valores e do rosto de Cristo e a resposta consciente à gloria de Deus é a condição para a transformação interior do homem, para o madurecimento dos valores centrais da pessoa e, sobretudo, para a beleza sobrenatural pela qual Deus é objetivamente  louvado e adorado.
Este louvor é tanto mais adequado e essencial, quanto mais perfeito é o homem e mais semelhante a Cristo, quanto mais santo...

A glorificação consciente de Deus é dupla.
No amor a Deus devemos a Deus expressamente um ato de glorificação na palavra do louvor. O amor de adoração é o fundamento disso. O canto de louvor é algo novo e soará também na eternidade, conforme disse Santo Agostinho:

Vocabimus et videbimus,
Videbimus et amabimus,
Amabimus et laudabimus,
Quod erit in fine sine fine.

Celebraremos e conheceremos,
Conheceremos e amaremos,
Amaremos e louvaremos,
O que será no fim sem fim.

O louvor que cantamos a uma só voz com os anjos no Sanctus é ainda uma coisa própria, diferenciada do amor. De certo, o louvor é uma conseqüência do amor que adora; o amor é a alma do louvor. Mas o ato expresso de louvar e glorificar completa e remata o amor a Deus.

Toda a criação louva a Deus objetivamente pelos seus valores (de bondade, beleza, verdade etc.) e encontra nos atos de louvar, glorificar e agradecer a Deus pelo homem a sua realização pessoal e consciente.
A glorificação expressa de Deus é relacionada à glorificação objetiva de Deus através da santidade.

Por um lado: Só o Santo é capaz de entoar o louvor de Deus com valor:
          Quem pode subir à montanha do Senhor?
          Quem pode ficar de pé no seu lugar santo?
           - Quem tem as mãos inocentes e o coração puro.
                                                                                         (salmo 23)

Pelo outro lado: O louvar, glorificar e sacrificar transforma profundamente o homem e o santifica.

A santificação e o amor de adoração andam de mãos dadas e deles resulta organicamente o louvar e glorificar, em especial.
Cantare amantis est. (Agostinho)
Cantar é próprio de quem ama.
A santificação do homem, porém, é impossível sem laudare et glorificare Dominum.

Ora, quem ama e adora a Deus de modo perfeito é somente o Deus-Homem Jesus Cristo. Só Ele é todo santo; só Ele glorifica a Deus de modo todo adequado pela Sua santidade e Suas palavras de louvor. Portanto, o fim ultimo sobrenatural de todo homem é a transformação em Cristo. Só por Ele, com Ele e nEle podemos adequadamente amar a Deus e louvá-Lo.
E podemos tornar-nos santos só na medida em que não vivemos mais em nos mesmos, mas que vive Cristo em nos, quer dizer, na medida em que a vida divina, plantada pelo Batismo, chega ao pleno desenvolvimento em nós. Que Cristo seja formado em nos é a essência de toda a santificação.

Essa transformação em Cristo contem não só a adoração amorosa do Pai com Cristo e em Cristo, mas também a participação na realização do sacrifício de Cristo e na palavra de louvor e glorificação que, validamente, somente Cristo pode dirigir ao Seu Pai celestial.
Na nossa fragilidade e imperfeição podemos já participar no louvor dos anjos, porque, sendo membros do Corpo Místico de Cristo, oremos com Cristo, a cabeça.
E na medida em que realizamos juntos a glorificação do Pai – que tem sido a parte central da vida de Cristo – somos transformados cada vez mais.

Tal transformação que tem seu fundamento na recepção dos sacramentos, acontece também na contemplação amorosa da pessoa do Salvador, na vida e na ação no espírito de Cristo, ao obedecer aos Seus mandamentos, ao seguir-Lhe e tomar a Sua cruz, na caridade ao próximo com Cristo.
Toda a ascese, todo o trabalho a si mesmo, a cada dia, só tem tal sentido.

Um caminho importante, porém, da transformação em Cristo é a participação na Sua glorificação do Pai, o que, exatamente, acontece na liturgia.
É a LITURGIA que nos introduz nos mistérios de amor do Deus-Homem ao Pai, da Sua glorificação do Pai celestial e do amor do Pai aos homens.

A realização consciente e atenta da liturgia imprime à nossa alma o rosto de Cristo. Participando assimilamos as atitudes fundamentais que se cristalizaram na liturgia.


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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ite Missa Est
n.o 4
agosto de 2011
Liturgia e Personalidade (I)

Que espírito se objetivou na Liturgia (tradicional)? Quem vive neste espírito, que formação interior recebe, em que personalidade se transforma? É o espírito do Deus-Homem que fala a nos na Liturgia e através da Liturgia. Qual é a essência da liturgia e da personalidade bem como a formação da pessoa?Algumas características da Liturgia a respeito possam ajudar-nos a realizar a Liturgia com uma sensibilidade maior, com um olhar mais agudo pela sua profundidade inexaurível, sua figura clássica, a sua natureza perfeitamente orgânica. Com um sentido reaberto podemos descobrir a sua preferência incomparável sobre todas as outras formas de devoção.Antes de tudo, quanto à Liturgia dever-se-ia exclamar a todos a palavra de Jesus dirigida à mulher samaritana: O si scires donum Dei! – Oh se conhecesses o dom de Deus! O uso da palavra Liturgia não se refere a formas devocionais, como p.ex. o Rosário etc., mas designa, propriamente, a celebração do Sacrifício da Santa Missa, dos Sacramentos e Sacramentais, e do Breviário. O sentido primário da Liturgia, porém, é a adoração e o louvor de Deus, porque Deus contem toda a glória e santidade: Te Deum laudamus, Te Dominum confitemur... Na Santa Missa pedimos também de nos tornar participantes da Graça Divina.Os Sacramentos visam a inserção do homem na vida divina. Ao receber os Sacramentos, desejamos a santificação e a união com Deus. Mesmo que sejam necessárias certas atitudes da pessoa para o crescimento da vida divina em nos, a causa é sempre a ação gratuita de Deus.Embora que a Liturgia tenha uma eficácia pedagógica (e catequética), ela não deve ser entendida como pedagogia (ou catequese).A transformação da pessoa não é uma intenção expressa da Liturgia. Pelo contrario, ela é conseqüência de uma resposta de amor a Deus, sob os raios do sol dos valores, no esquecimento de si mesma. Na entrega à glorificação de Deus, no permanecer diante da Sua Glória, na alegria da existência de Deus, da Sua Glória, das Suas feitas acontece a mais profunda e orgânica transformação do homem no espírito de Cristo.Orando e sacrificando liturgicamente, i. é por Cristo, com Cristo, em Cristo glorificando a Deus, ficamos impregnados do espírito de Cristo, nos revestimos de Cristo. Assim a transformação acontece por si mesma, sem ser expressamente intencionada. A exposição das atitudes fundamentais, concretizadas objetivamente na Liturgia, significa um entendimento na Liturgia e no seu espírito que nos permite uma participação mais consciente e essencial.Na Liturgia se nos revela o rosto de Cristo; ela é o Cristo orante. E assim nos penetramos no grande mistério da adoração de Deus.Não nas formas diversas de devoção e práticas religiosas, mas exatamente na Liturgia desenvolve-se a vida divina em nos, recebida no Batismo. É que o homem, todo formado pelo espírito da Liturgia, se torna mais semelhante a Cristo.Não obstante que Deus seja livre de dar Seus dons como Ele quiser, a Liturgia, unida organicamente à oração interior e à ascese pessoal, é o caminho, por Deus dado, para assemelhar-se a Cristo.
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sábado, 14 de maio de 2011



Ite Missa Est
n.o 3
abril & maio de 2011

Publicação pela propagação da Missa tradicional de São Pio V

A crise da Igreja depende de grande
parte da ruína da liturgia


Em 2010, na Alemanha, se fez entre os católicos uma pesquisa a respeito da Missa tradicional. Eis o resultado:
 1.a pergunta: Quantas vezes você participa da Santa Missa?
  - cada semana (domingo): 6%
  - 1 vez por mês: 4%
  - nas grandes solenidades: 19%
  - ocasionalmente (p.ex. casamentos...): 42%
  - nunca: 29%
 2.a pergunta: Em julho de 2007, o Papa Bento XVI lembrou que existem duas formas de celebração da Santa Missa:
 - A forma ordinária, segundo Paulo VI, celebrada: * na língua popular, * com o celebrante olhando para o povo   * e a Comunhão recebida de pé.
 - E a forma extraordinária, segundo PioV, celebrada: * na língua latina, no rito gregoriano * com o celebrante virado para o altar, * e a Comunhão recebida de joelhos.
Você soube dessas duas formas de celebração da Santa Missa?
- Sim: 43%
- Não: 57%
 3.a pergunta: Você acharia ser normal, se a Santa Missa em ambas as suas formas, fosse celebrada, regularmente, na sua paróquia?
- Sim: 51%
- Não: 24%
- Sem opinião: 25 %
 4.a pergunta: Se a Santa Missa, em latim, no rito gregoriano, na forma extraordinária, fosse também celebrada na sua paróquia (sem substituir a Missa na sua forma ordinária, na língua popular), você participaria nela?
Resposta dos católicos praticantes que participam 1 vez por semana ou 1 vez por mês:
- Sim: 25%
- 1 vez por mês: 19%
- nas solenidades: 9%
- ocasionalmente: 40%
- jamais: 7%
 Conclusão da pesquisa: A Alemanha tem 82 milhões de habitantes.
                    20.090.000 se dizem católicos.
                      1.185.310 participam todo domingo.
                       823.690 participam na Santa Missa 1 vez por mês.
Daí cerca de 300.000 católicos da Alemanha participariam cada domingo, na Santa Missa na sua forma tradicional, se ela fosse celebrada na própria paróquia.
 No zelo pelo bem das almas, caberia bem instalar a Missa tradicional como elemento regular da liturgia nas paróquias. Lembramos, portanto, o pronunciamento do Cardeal Castrillon-Hoyos que disse: < O Santo Padre quer que a forma tradicional da Santa Missa torne-se elemento regular da vida litúrgica da Igreja. Todos os fieis... familiarizem-se com os ritos antigos.>

O Cardeal afirma que o Papa deseja isso por razões pastorais e teológicos.
Obviamente, essas razões devem consistir naquilo em que as duas formas de celebrar a Santa Missa divergem, perceptivelmente, para quem a assiste:
Podemos concluir que, pela celebração regular da Missa tradicional nas paróquias, o Papa deseja recuperar, principalmente, as seguintes três dimensões espirituais da Santa Missa, que na forma ordinária de celebração da Missa Nova ficaram marginalizadas:

   1.o) Recuperar a dimensão da Santa Missa como SACRIFÍCIO. A Missa é muito mais do que tão somente uma assembléia de comunidade.
Com a conseqüência de que o sacerdote, agindo como mediador entre Deus e os homens, fica orientado para o altar (para o oriente) e não para o povo.
   2.o) Recuperar a consciência da PRESENÇA REAL de Nosso Senhor Jesus Cristo nas espécies consagradas de pão e vinho.
Conseqüência: Receber a Santa Comunhão no estado de Graça, de joelhos e na boca.
   3.o) Recuperar a SACRALIDADE da liturgia eucarística como celebração do MISTÉRIO DA FÉ.
Conseqüência: fidelidade às rubricas (para evitar banalidades) e uso do Latim como língua de culto, consagrada como símbolo expressivo por dois milênios de cultura católica.

Em 1984, o então Cardeal Joseph Ratzinger falou de um <processo progressivo de decadência> das nações cristãs do Ocidente. E o próprio Papa João Paulo II, em 2003, no fim do seu longo pontificado, lamentou a <apostasia silenciosa> da então Europa cristã.

Essa apostasia silenciosa penetrou cada vez mais nos elementos humanos da Igreja, sobretudo após a abertura da Igreja para o mundo, programado pelo Concílio Vaticano II.
Antes do Concílio, o mundo se encontrava num processo acelerado de decadência e desintegração, contra o que os diversos Papas anteriores alertaram e advertiram. Dentro da Igreja, porém, a fé ainda estava forte, a liturgia intacta, as vocações numerosas e as famílias ricas em filhos. Aí o Concílio veio proclamar a grande e essencial < abertura da Igreja para o mundo>. Mudou a direção de referencia do vertical e sobrenatural (Deus) para o horizontal (o Homem no seu mundo de experiência natural).
Em espantosamente poucos anos, após a introdução dessa nova orientação teológico-litúrgico-pastoral os efeitos indicaram um desastre geral de toda a Igreja: Na França, a participação na Missa dominical tinha diminuído por 43%; na Holanda por 50%; na Alemanha por 62%. E em somente sete anos após a introdução da Missa Nova, o número dos sacerdotes no mundo inteiro se tinha reduzido de 413.438 a 243.307.
Na Arquidiocese de Munique-Frisinga, na Alemanha, em 1951, foram ordinados 38 sacerdotes, entre eles o Dr. Joseph Ratzinger; em 1969, foram 15; em 1973 foram 4; em 1981 foram 5 etc.

Em 1997, o então Cardeal Joseph Ratzinger declarou: <Estou convencido que a crise da Igreja, que presenciamos hoje, depende de grande parte da ruína da liturgia.>

Antes do Concílio e das suas reformas não havia <ruína da liturgia>. Quinze anos depois do Concílio e no segundo ano do pontificado de João Paulo II, o Papa pediu perdão pela perda repentina e dramática a fé e do respeito pela Eucaristia: <Peço ao Senhor Jesus que, futuramente, no nosso comportamento para com esse mistério sagrado, consigamos evitar tudo quanto, de modo qualquer, possa diminuir ou confundir junto aos nossos fieis o sentimento de respeito e de amor.>

Hoje em dia, a grande maioria do povo cristão não acredita mais na presença real de Cristo na Santíssima Eucaristia. Recebe-se o Corpo de Cristo na mão, por ministros leigos não ordenados e se trata a Santa Comunhão como pão comum. Os efeitos da ruína da liturgia atingiram todos os níveis: Poucos dias antes da sua elevação ao Trono de São Pedro, o Cardeal Ratzinger tinha dito: <Quanta sujeira existe na Igreja e, exatamente, também entre aqueles que, pelo sacerdócio, deviam pertencer totalmente a Ele!>
Essa sujeira referia-se ao número incrível de escândalos morais. Crimes indizíveis de sacerdotes, que no mundo inteiro vieram à tona, foi a colheita de décadas de <renovação conciliar> nos seminários. O fiel católico se vendo envergonhado de tal clero e episcopado, e vendo os frutos do Concílio, das reformas, da liturgia nova, encontra, portanto, um refúgio de segurança na fé, de paz e de alegria de ser católico, na liturgia tradicional, não tocada pelo modernismo.
<A mensagem do Concílio Vaticano II foi percebido, sobretudo, pela reforma litúrgica.> (João Paulo II)
E remata Paulo VI (+ 1978): <Se acreditava, depois do Concílio teria chegado um dia ensolarado para a história da Igreja, Chegou, porém, um dia nublado, um dia de tempestade, de escuridão, de procura de insegurança.>

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sábado, 2 de abril de 2011





Ite Missa Est
n.o 2
março de 2011

Publicação pela propagação da Missa tradicional

(Espiritualidade)
A ÚNICA COISA NECESSÁRIA


A vida interior é uma forma elevada da conversação íntima que cada um tem consigo mesmo, quando se concentra em si. Desde o momento que cessa de conversar com seus semelhantes, o homem conversa interiormente consigo mesmo, acerca de qualquer questão que o preocupa. Esta conversa varia muito segundo as diversas épocas da vida, a do velho não é a mesma que a do jovem, é também muito diferente segundo que o homem for bom ou mal.

Enquanto o homem buscar, com seriedade a verdade e o bem, esta conversação intima consigo mesmo tende a converter-se em conversação com Deus, e aos poucos, em vez de buscar-se em todas as coisas a si mesmo e constituir-se em centro de tudo o demais, tende a buscar a Deus em tudo e a substituir o egoísmo pelo amor a Deus e pelo amor às almas em Deus. E isto é, exatamente, a vida interior.

A única coisa necessária de que falava Jesus (Lc 10,42) a Maria e Marta, consiste em prestar atenção à Palavra de Deus e em viver segundo ela.

A vida interior, compreendida assim, é em nós uma coisa muito mais profunda e necessária que a vida intelectual ou o cultivo das ciências, é mais que a vida artística e literária, e é ainda mais que a vida social e política. Não é difícil encontrar grandes mestres de matemática, física, medicina etc, que, no entanto, não possuem, absolutamente, nenhuma vida interior; entregam-se ao estudo das ciências como se Deus não existisse; nos seus momentos de concentração não conversam de forma alguma com Deus.

 Embora que suas vidas, de certo modo, sejam entregues à investigação da verdade e do bem, estão tão obcecadas pelo amor próprio e pelo orgulho intelectual que nos perguntamos se seria possível que produzam, alguma vez, frutos de eternidade. Muitos cientistas, artistas, intelectuais e políticos só chegam a este nível de uma atividade puramente humana, exterior e superficial. Por acaso, se poderia afirmar que o fundo das suas almas viva de um bem superior a elas? Parece que não!

A vida interior – ou seja, a vida da alma com Deus – com toda a razão há de ser chamada a única coisa necessária: pois, por ela, tendemos ao nosso fim último e por ela asseguramos a nossa salvação que não há de separar da progressiva santificação, porque esta é o caminho mesmo da salvação.

Muitos pensam desta forma: afinal de contas, basta que eu me salve; e não é necessário ser um santo. Que não é necessário ser um santo que faça milagres e cuja santidade seja, oficialmente, reconhecida pela Igreja, é certo. Para ir ao Céu, porém, é preciso empreender o caminho da salvação, e este não é senão o caminho mesmo da santidade. No Céu somente haverá santos: seja que entraram imediatamente depois da sua morte, seja que tenham tido necessidade antes de ser purificados no purgatório. Ninguém entra no Céu que não possua aquela santidade que consiste em estar puro e limpo de toda falta; todo pecado, mesmo venial, deve ser apagado e a pena merecida pelo pecado há de ser expiada ou perdoada, antes que uma alma goze eternamente da visão de Deus.

Para ser santo não e necessário ter recebido uma cultura intelectual ou ter uma grande atividade exterior; basta viver, profundamente, de Deus. Isto é que observamos entre os santos dos primeiros tempos da Igreja, dos quais muitos eram pessoas humildes e mesmo escravos.
Todos eles compreenderam, profundamente, estas palavras do Salvador: <Que aproveita o homem ganhar o mundo, se perder a sua alma!> (Mt 16,26) Se tantas coisas sacrificamos para cuidar da vida do corpo – que no fim das coisas há de morrer - , que não deveríamos sacrificar para cuidar da vida da alma que há de viver eternamente! Não deve o homem amar mais a sua alma que o seu corpo. <Que poderia o homem dar em troca de sua alma?> (ibid.) Unum est necessarium, diz Jesus: escutar a Palavra de Deus e viver segundo ela para salvar a alma. Esta é a melhor parte, que ninguém roubará à alma fiel mesmo quando perdesse tudo o demais.
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terça-feira, 1 de março de 2011


Ite Missa Est
n.o 1
fevereiro de 2011

Publicação pela propagação da Missa tradicional de São Pio V.

FUNDAMENTO E MISSÃO

A CARTA APOSTÓLICA  Motu Proprio SUMMORUM PONTIFICUM
 Devemos ao nosso Papa atual, Bento XVI, a reabilitação da Liturgia tradicional da celebração da Santa Missa e, também dos Sacramentos. A Missa tradicional, chamada também a de São Pio V, era, comumente, considerada, até então, como algo proibido, superado, sinistro.
 Foi em julho de 2007, quando o Santo Padre publicou o >Motu proprio< (isto é: uma carta de um impulso pessoal), chamado pelas primeiras duas palavras em latim ”Summorum Pontificum”. E anexou uma carta aos Bispos, - explicando-lhes a necessidade de devolver a Missa tradicional à vida litúrgica regular da Igreja – que uma suposta proibição foi levantada.
O Papa visou não somente a reconciliação com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (-a qual, sob difamação e perseguição no meio da Igreja, manteve e salvou a Missa tradicional para a nossa atualidade-), mas através do livre acesso à Missa tradicional, para leigos e clérigos, deseja o bem espiritual de todas as almas.

Pois se mostrou, escreve o Papa, “que pessoas jovens ao descobrir esta forma litúrgica, sentem-se atraídas por ela e encontram um modo particularmente capaz de revelar-lhes o mistério da Santíssima Eucaristia”.
“Estai atentos a vós mesmos e a todo o rebanho; nele o Espírito Santo vos constituiu guardiães (=bispos), para apascentardes a Igreja de Deus”, exorta o Papa os seus Bispos com as palavras dos Atos dos Apóstolos (20,28).  E, apelando ao coração de pastores, o Papa convida os Bispos: “Abramos, largamente, o nosso coração e demos espaço a tudo quanto a própria Fé dá espaço!”

 CONTINUIDADE, E NÃO RUPTURA!
Não existe razão justa para bispos se oporem à permissão geral, dada pelo Papa, aos sacerdotes de celebrar, e aos fiéis de assistir à Missa tradicional.
Argumenta o Papa: “Na história da Liturgia há crescimento e progresso, nunca ruptura. O que tem sido sagrado para gerações anteriores, continua sagrado e sublime também para nós. É impossível que, de repente e categoricamente, isso seja proibido ou, até mesmo, prejudicial.”
“Faz bem a todos nós – conclui o Santo Padre – conservar os tesouros que cresceram no crer e no orar da Igreja, e dar-lhes o seu devido lugar.”
São princípios católicos a continuidade e a coerência com a tradição da Igreja, e, não, a ruptura, descontinuidade e contradição!
Portanto, as pretensões do Concilio Vaticano II devem ser entendidas, não como um início totalmente novo, mas em coerência e de acordo com todos os Concílios da Igreja, e, especialmente, com o grande Concílio de Trento (pelo seu valor indiscutível de bons frutos).



A IMPORTÂNCIA DA MISSA TRADICIONAL PARA TODA A IGREJA
Quando se introduziu o novo Missal de Paulo VI, em 1970, não foi abrogado o Missal anterior, até então em uso. (Portanto, a celebração segundo o Missal antigo permaneceu, sempre, permitida!)
Muitas pessoas, familiarizadas e enraizadas na liturgia tradicional, não quiseram separar-se dela. Além disso, abusos freqüentes e insuportáveis, (aos quais se presta a Missa Nova) causaram repulsa a muitas pessoas.
E afirma o próprio Papa Bento XVI: “Eu vi o tanto que foram feridas pessoas, inteiramente enraizadas na Fé da Igreja, por desfigurações arbitrarias da liturgia.”
Da Missa tradicional o Santo Padre espera também um proveito para a Missa Nova: Que se faça sensível uma maior sacralidade e fidelidade de celebração.

MISSÃO DE PROPAGACÃO DA MISSA TRADICIONAL
Em junho de 2008, o Cardeal Dario Castrillon declarou, como que sendo porta-voz do Papa:
“Permitam que eu diga uma coisa bem claramente: O Santo Padre quer que a forma tradicional da Santa Missa torne-se elemento regular da vida litúrgica da Igreja. Todos os fiéis – tanto jovens quanto idosos – familiarizem-se com os ritos antigos, a fim de tirarem proveito da beleza e da transcendência sensíveis deles.
O Santo Padre deseja isso tanto por razões pastorais quanto teológicas.”
É uma preocupação vital do nosso Sumo Pontífice Bento XVI que a Igreja de Cristo ofereça a “Majestade Divina um culto digno” de adoração do Seu santo nome e de santificação das almas.

Portanto a questão litúrgica é de suma importância para a vida e o futuro da Igreja. Com toda razão um teólogo disse:
“A Missa tradicional precisa de uma vanguarda que a recoloque ao castiçal. Ela é a Missa de amanhã, porque, sem ela, não haverá um amanhã.”