sábado, 2 de abril de 2011





Ite Missa Est
n.o 2
março de 2011

Publicação pela propagação da Missa tradicional

(Espiritualidade)
A ÚNICA COISA NECESSÁRIA


A vida interior é uma forma elevada da conversação íntima que cada um tem consigo mesmo, quando se concentra em si. Desde o momento que cessa de conversar com seus semelhantes, o homem conversa interiormente consigo mesmo, acerca de qualquer questão que o preocupa. Esta conversa varia muito segundo as diversas épocas da vida, a do velho não é a mesma que a do jovem, é também muito diferente segundo que o homem for bom ou mal.

Enquanto o homem buscar, com seriedade a verdade e o bem, esta conversação intima consigo mesmo tende a converter-se em conversação com Deus, e aos poucos, em vez de buscar-se em todas as coisas a si mesmo e constituir-se em centro de tudo o demais, tende a buscar a Deus em tudo e a substituir o egoísmo pelo amor a Deus e pelo amor às almas em Deus. E isto é, exatamente, a vida interior.

A única coisa necessária de que falava Jesus (Lc 10,42) a Maria e Marta, consiste em prestar atenção à Palavra de Deus e em viver segundo ela.

A vida interior, compreendida assim, é em nós uma coisa muito mais profunda e necessária que a vida intelectual ou o cultivo das ciências, é mais que a vida artística e literária, e é ainda mais que a vida social e política. Não é difícil encontrar grandes mestres de matemática, física, medicina etc, que, no entanto, não possuem, absolutamente, nenhuma vida interior; entregam-se ao estudo das ciências como se Deus não existisse; nos seus momentos de concentração não conversam de forma alguma com Deus.

 Embora que suas vidas, de certo modo, sejam entregues à investigação da verdade e do bem, estão tão obcecadas pelo amor próprio e pelo orgulho intelectual que nos perguntamos se seria possível que produzam, alguma vez, frutos de eternidade. Muitos cientistas, artistas, intelectuais e políticos só chegam a este nível de uma atividade puramente humana, exterior e superficial. Por acaso, se poderia afirmar que o fundo das suas almas viva de um bem superior a elas? Parece que não!

A vida interior – ou seja, a vida da alma com Deus – com toda a razão há de ser chamada a única coisa necessária: pois, por ela, tendemos ao nosso fim último e por ela asseguramos a nossa salvação que não há de separar da progressiva santificação, porque esta é o caminho mesmo da salvação.

Muitos pensam desta forma: afinal de contas, basta que eu me salve; e não é necessário ser um santo. Que não é necessário ser um santo que faça milagres e cuja santidade seja, oficialmente, reconhecida pela Igreja, é certo. Para ir ao Céu, porém, é preciso empreender o caminho da salvação, e este não é senão o caminho mesmo da santidade. No Céu somente haverá santos: seja que entraram imediatamente depois da sua morte, seja que tenham tido necessidade antes de ser purificados no purgatório. Ninguém entra no Céu que não possua aquela santidade que consiste em estar puro e limpo de toda falta; todo pecado, mesmo venial, deve ser apagado e a pena merecida pelo pecado há de ser expiada ou perdoada, antes que uma alma goze eternamente da visão de Deus.

Para ser santo não e necessário ter recebido uma cultura intelectual ou ter uma grande atividade exterior; basta viver, profundamente, de Deus. Isto é que observamos entre os santos dos primeiros tempos da Igreja, dos quais muitos eram pessoas humildes e mesmo escravos.
Todos eles compreenderam, profundamente, estas palavras do Salvador: <Que aproveita o homem ganhar o mundo, se perder a sua alma!> (Mt 16,26) Se tantas coisas sacrificamos para cuidar da vida do corpo – que no fim das coisas há de morrer - , que não deveríamos sacrificar para cuidar da vida da alma que há de viver eternamente! Não deve o homem amar mais a sua alma que o seu corpo. <Que poderia o homem dar em troca de sua alma?> (ibid.) Unum est necessarium, diz Jesus: escutar a Palavra de Deus e viver segundo ela para salvar a alma. Esta é a melhor parte, que ninguém roubará à alma fiel mesmo quando perdesse tudo o demais.
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